sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Eu deveria estar dormindo,
Sonhando,
Ou não...

Eu deveria estar repleto de metáforas,
Figuras de linguagens,
Ou não...

Eu deveria ser só hipérboles,
Exageros,
Ou não...

A verdade é que se fosse diferente,
Não seria nós.

Se fosse muito mais do que é,
Seria pouco.

Se fosse muito menos do que é,
Faltaria o dobro.

Quem diria que ia ser amor?

Outros que viram de lá,
Disseram que bem tu não fazes.

Outros que viram daqui,
Disseram que nunca fui tão feliz.

Ah, guria, que ousadia minha chegar até aqui.
Que ousadia tua de não me impedir.


Atrevimento,
Esse nosso,
De se amar tanto assim.


domingo, 27 de julho de 2014

AF:. Fila do pão

Encontrei a mãe dela hoje.
Na maldita fila do pão...

Ela tava comprando pães 
E eu, adivinhe...cigarros.

Tentei fingir que não era eu
E quase funcionou, mais um pouco
E ela não me acharia atrás da barba.

Mas ela reconheceu.
Ela me viu embaixo daquilo,
Do misto de decadência e pelos. 

Uma conversa breve.
Sempre tão agradável.
Por um segundo achei que sairia ileso.

"Uma pena não ter dado certo,
Tu era o genro que sempre quis.
Adoraria ser avó dos teus filhos."

Se haviam dúvidas quanto ao efizema,
Ali eu tive certeza. Perdi todo meu ar.

Sai sutilmente apressado e fui.

Nem Deus sabe em que direção.
Só consegui pensar: filhos.

Imaginei ela grávida
Imaginei o parto
Imaginei dois
Imaginei crianças 
Imaginei domingos 
Imaginei uma família.

Espera.
Não, não vai.
Pode ficar, eu pago pela noite toda. 

Preciso terminar essa história. 

AF:. Sala de estar

Já não recordo de como era antes,
Antes de ti.

Tudo na minha sala já me é tão familiar.
Não faz sentindo ter sido diferente.

Mas era.
Nada era do jeito que é.
Não até tu decidir se mudar pra cá.

Tu disse que já éramos crescidos,
Que não tinha porque não
E que eu era covarde pra amar. 

Tu veio. Mudou tudo.
Eu gostei tanto. Eu amei tudo.
Todos os móveis da sala.

Até a primeira vez que tu,
Sem dizer os porquês,
Foi pro sofá no meio da noite.

Quase um ano até desfazer as caixas,
Menos de trinta minutos até tu fazer 
Aquelas malditas malas.

O decorador que ia "repaginar"
Todo o nosso lugar, 
Aguarda a minha ligação...

Há três anos. 

- Alô. 
- Boa noite, dotô. É aquela moça. 
- Boa, seu João.

Pode mandar subir. 

AF:. Pigarro

Essa tosse não passa.

O pigarro já nem incomoda mais 
Mas a tosse, essa sim me irrita,
Me irrita tanto.

Entrelaçados,
Rouquidão e a tosse seca,
Ditam o ritmo dos meus contos.

Uma dose ou duas de vodka,
Talvez ela aqueça minha garganta
E quem sabe, aqueça algo a mais. 

Outra crise de tosse. 

Essa tosse toda,
Parece que é meu corpo
Tentando expurgar algo....

...Não me espantaria se fosse você. 

Talvez eu deva ir ao médico, 
Ou parar de fumar,
Ou cessar as noites no sereno.

Mas nós sabemos que não seria eficaz
A minha cura vai aquém do meu corpo.

Não seria um remédio,
Não seria o título de Doutor 
E muito menos uma sombrinha.

No dia em que eu
Cuspir todo o pigarro
Misturado com teus restos
E teus dejetos 

A tosse cessará. 

AF:. Paloma

Arthur. Arthur Fernandes.
Meu nome.

Mas não era o que soava,
Destilado na tua boca parecia código.

Tu sabia que era eu,
Tu tem o meu número
E ainda sim, tu pergunta: -Qual Arthur? 

E não me escandaliza. É o praxe. 

Arthur, Artur, Silva, Souza
Quantos são? 
Nunca ousei perguntar.
Até hoje.

Se já não bastassem as antíteses..
Eu tenho que lidar com os paradoxos.
Como alguém tão cheio de alguens,
Me faz sentir único? 

É o teu trabalho. 
Tu não sabes mas é a poeta entre nós.
 
Constrói a melhor metáfora, 
Imprime a mais forte catarse,
Usa de todo o universsalismo
E faz de mim, um leitor extasiado. 

Tudo sem proferir uma única palavra. 



Pseudônimo

A.F: Arthur Fernandes. Escritor. Ainda que tenha conflitos constantes com a editora, bem sucedido. Arthur mora no Rio de Janeiro mas é paulista e as vezes morre de saudade do caos urbano porém não se imagina sem a boêmia carioca. Bebe pouco mas fuma demais, 2 ou 3 maços de cigarro não bastam pra um dia. Mas nem sempre foi assim, antes de seu relacionamento acabar ele fumava menos. Manoela e Arthur namoraram um ano e moraram juntos três. Ela decidiu embora. Ele nunca mais foi o mesmo. Hoje em dia, ele passa a maior parte do tempo na rua, observando pessoas, vivendo a vida de outros e escrevendo sobre nada. Sua única relação estável desde então, é Paloma. Uma prostituta que ele conheceu numa noite em que os amigos decidiram que iam "resgata-lo". Mas a maior parte do tempo, não há sexo, ele paga pra ser ouvido, ele paga pra cozinhar pra ela ou perguntar que camisa usar em uma entrevista. Arhur. Arthur Fernandes.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ágora

Sobre a mesa vermelha:
Meu maço.

Ao meu redor
Três filósofos bêbados.

E eu. 
Eu que já não fujo mais de mentiras 
Ouço atento a toda aquela filosofia.

Religião, política, futebol 
As catástrofes do jornal 
As tragédias não anunciadas
O filho da vizinha que morreu 

Tanto que se diz, pouco que se ouve.
No tanto que se ouve, não há o que dizer.

A noite gelada me lembra o teu corpo 
Mas jurei que hoje não iria precisar de ti.

A Ágora se desfaz 
Os três filósofos bêbados 
São três bêbados filósofos.

Imerso no momento, me questiono:
Onde estará você essa noite? 
Em que casa,
Carro,
Rua,
Chão,
Bar,
Motel? 
Não quero saber. 

Eu jurei que não ia precisar de ti
Não essa noite.

Meu nome é sussurrado 
Acabou o expediente
Fechamos o bar.

Dos filósofos já não sei mais,
Os maços já se foram,
As mesas se empilharam. 

E tu? Cadê? 

Juro que é só mais uma vez. 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Dama de preto

lençóis azuis, 
travesseiros brancos,
Teu cobertor marrom.

Alberto Caeiro,
Paz perpétua,
Marcela e Thiago.

Chet Faker,
Chico Buarque,
Tool.

Prestígio, 
Macarrão,
Café da tua mãe. 

Sobre-riso,
Seu cabelo,
Seus olhos.

Tu entrou não só 
No meu peito

Tu invadiu não só
Os meus gostos

Tu tomou não só 
O meu peito

Tu virou parte de tudo aqui.
A melhor parte.

Azul como teus olhos

São esses teus olhos azuis. Eu nunca me imaginei te dizendo adeus, nunca me imaginei te querendo longe, nunca pensei que pudesse te ver tão distante de nós. Mas não posso mais lidar com essa indiferença, não posso mais me imaginar querendo ser algo que não sou -e o pior de tudo que não é algo que eu possa mudar- não posso mais fingir que não ligo para os meus sentimentos. Não é justo. Não é certo. Não é mais o que eu quero. Te amar não foi um erro, não me arrependo nem por um segundo. Tu me deu coisas que ninguém pode tirar, tu me deu o livro que mais gosto no mundo, tu me ensinou que pessoas podem se bater, tu me ensinou que uma cama pequena basta pra quem quer estar junto, tu me ensinou a odiar Across The Universe e olha que é um dos teus filmes favoritos. Mas são esses teus olhos azuis. Eu não suporto mais viver completando as lacunas de algum vazio, eu não suporto mais ser o abrigo quando tu da errado, não aguento mais encobrir alguma merda qualquer, não aguento mais ser só o que te protege. Eu quero ser lacuna, eu quero te abrigar quando tudo está bem, eu quero que você me ame quando está feliz e não só quando está triste. E tem esses teus olhos azuis. Amo tantas coisas sobre você, amo tantos jeitos de você me tocar, amo o jeito como tu me beija e dps faz charme, o jeito que tu faz chantagem  com um beijo ou dois, quando tu faz merda e me agarra pra se desculpar, amo o jeito como tu se encaixa no meu colo e o jeito com o qual tu me chama pelo apelido e faz vozinha fofa quando eu te surpreendo. Eu sei que vou morrer de saudade de olhar dentro dos teus olhos azuis, eu sei que vou morrer de saudade da sua voz, sei que vou morrer de saudade do seu carinho e de tudo sobre a gente mas não podemos mais fingir. Eu nunca vou poder ser seu homem. E isso muda tudo pra você, né pequena?! Sabe que ainda me sinto culpada por isso?! Pois é, veja você como são as coisas. Eu desejo que tu encontre um que te faça muito feliz. E espero encontrar alguém que queira cuidar de mim, só um pouco pois tu sabe que eu nem sou de pedir muito. Eu te amei de todas as maneiras que pude mas eu simplesmente, não posso mais. Espero que tu se cuide e que fique tudo bem pra você. Te amo muito -sim, eu quase nunca digo isso mas eu te amo muito- e guarda contigo tudo que te dei pois tem umas ótimas partes de mim ai contigo. Nunca vou esquecer dos teus olhos azuis. 

domingo, 6 de julho de 2014

Feixe

Observo o feixe solitário de luz 
Sem se quer notar, me apego 
Percebo o motivo enquanto ele reluz 
A semelhança era era essencial.

O jeito com a qual trapaça as barreiras 
Com o qual traspassa a janela 
E ludibria a cortina.

O jeito ainda que meio intrujão
Soa o mais anfitrião dos convidados.

Não se deixa enganar 
Não se deixa impedir 
Não se deixa nem segurar

Me traspassa, me transborda
Me invade, me toma 
Me faz refém, me cativa 

Sem querer e sempre querendo,
Já sou um terço de feixe.

O feixe que nunca foi luz,
Que nunca foi feixe,
O feixe que sempre foi você.

Ciranda

Mal me quer, bem me tem 
E assim seguimos, meu bem.

Tu diz sim com jeito de não 
E eu respondo não com cara de sim.

Cê jura não ter nada
E eu juro nada ter. 

Cê mente que me liga,
Não liga,
E eu minto que não ligo.

Mal me quer, bem me tem

Cá que estamos, 
Do lado de dentro dos momentos,
Onde não deveria haver sentimentos.

Era o que dizia nas linhas
Mas somos analfabetos de amor.

E nesse finge lá,
Mente de cá 

Nesse esconde dai,
Oculta daqui

A gente vai cirandando
Em volta do que parece amor 
Mas é chamego.

Mal me tem, bem que me quer.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

O fim de Gray

Fim de Gray

Muta mudo no imenso barulho de si
Constante enquanto mutante
Mocidade trocada pela paz da alma
Não há marcas aparentes 

Dos crimes e castigos 
Calas e consentes 
Consciência se faz ausente 

Refém da própria vaidade 
Perseguido pelo medo da eternidade 
Já não conheces mais a volta

Peste do passado lhe ronda
Lhe atormenta 
E só conheces o jogo da derrota

Antes fosse só a peste
Há agora a besta
Teima e urra e ensurdece 

Já não mais são da própria verdade
Não pode mais conviver com a besta
Cravas uma faca na imagem do mal

Morta está a besta 
Morta está a peste
Morto está o tormento 

Acabas de matar a si mesmo.

Mapa

Meridianos loiros
Paralelos brancos como bruma
Tua boca como linha do equador

Tuas mãos apontam oriente e ocidente
Teus olhos apontam ao mais longe sul 
Teus pés me fazem de norte 

Te observo em esquadro e compasso 
Ao passo que rotaciono ao buscar direção 
Aos poucos me acho 

Há em teus fartos narcisismos,
Nos líricos de tua voz
E nos teus sutis descartes...

Há em todo teu ser 
Tal como mapa

A cura do meu ócio.
 

sábado, 21 de junho de 2014

Madrugada entre ela

Dentro dos teus olhos raramente doces
Há alguma coisa. 

Perdido na tua voz aveludada
Há alguma coisa.

Nesses movimentos previamente espontâneos
Há alguma coisa. 

Escancarado nas tuas meias verdades
Há alguma coisa. 

Nas tuas dores risonhas
Há muita coisa. 

Já não sei onde as coisas se encontram 
Já não há mais certezas
Há prosa nesses versos
E versos nas tuas coxas.

Estou deslizando sobre teus contornos
Estou deliberando sobre tuas curvas
Estou me apossando da tua respiração 
Estou completamente entregue a ti.

Naquele momento a aurora é um reflexo teu
As nuvens formam um espelho do teu rosto
Nesse instante percebo que já é dia 
Te observo por um segundo ou mais, és quase tela. 

Todas as linhas me parecem breves
Os versos são apenas esboço do ocorrido.

Entre teus risos, meus carinhos
Entre os até breve, os volte logo.

Ainda decifrarei essa madrugada de sexta.  


terça-feira, 10 de junho de 2014

Musa do poeta

Estou partindo
Não minta assim pra mim
Não é preciso

Sei que teu corpo é só porto
Estadia permanente não vinga
Mas por favor, não minta

Meio poeta, meio atriz 
Por inteiro, apenas meretriz 
Conheço esses teus olhos ilusionistas
Por isso, não mintas 

-Elogios tão ensaiados,
Sabe se lá Deus,
Em quantos palcos...-

Tuas curvas bandidas 
Teus traços pecadores
Tuas palavras divinas

E só quero que mintas...

Por isso estou partindo
Pois tu, só me basta, em doses

É esse teu lugar
Amante por contrato
Coração sem dono 

Se amanheço a teu lado
Quebras o encanto

Deixarias de ser meretriz,
Eu não seria mais escritor
E esse seria o fim do nosso amor.

domingo, 1 de junho de 2014

Poeta da meia-noite

Poeta das noites intermináveis 
Sofre de abandono do sono 

Escrivão só
Ourives das palavras

Sentando em algum banco 
Não mais que apenas humano
Tomado pelo frio e pelo medo

Versos farsantes
Rezas incrédulas 

Cansado de Deus
Esquecido pelo diabo

sábado, 10 de maio de 2014

Aniversário

Coisa boas
Coisas ruins
Recomeços 
Fins

Natal 
Ano novo 
Um novo ano
Tudo de novo

Sobrevivente
Ainda vivo 
Externamente sóbrio
Por enquanto, inteiro

A isso
Brindo
Parabéns 
Feliz aniversário

Nova chance 
Para coisas boas
Coisas ruins
Recomeços 

Órfã

Da infância, um velho conhecido
Da memória, um caro amigo
Da dor, ainda um motivo 

Nós fizemos tantas promessas
Juramos conhecer o mundo
Selamos um pacto com o infinito

Porém, preferistes romper 
Rompeu comigo e com a vida 
Escolheu ser apenas lembrança
E assim, pra sempre viver 

Hoje tu preenche tudo em volta
Estas presente em todos detalhes  

Tua ausência tomou o teu lugar 
E a tua presença me assombra 

A saudade fez-se inquilina de mim 
Fez de minha alma tua moradia 
E diferente de ti 
Não me abandona nunca

Sua única decisão em minha ausência
Foi a que arrancou metade de mim 
E deixou-me estilhaçada a sangrar 

Fez-me órfã de abraços e carinhos 
Órfã de longas conversas silenciosas 
Órfã de gargalhdas e alegria repentina 

Sou hoje, uma total, órfã de ti.






sexta-feira, 2 de maio de 2014

Plataforma

São rostos e mais rostos
Uns amenos, outros rudes 
Etnias, estilos, povos, todos diferentes
Mas espantosamente parecidos

Olhares preocupados e nervosos
Olhares cerrados e perdidos
Apressados, correndo, fugindo
Todos parecem ansiosos

Será que pelo mesmo motivo? 
Será que todos buscam o mesmo? 
Se sim, o que seria isso? 
Eu deveria buscar também?

Já são cinco estações e nada ainda
Nenhuma resposta e logo, serei eu 
O ansioso, apressado, fugitivo 

Mas a minha estação se aproxima
Já nem lembro o que antes dizia
Um bela moça roubou-me as palavras

Ela se foi antes de mim
Não a verei nunca mais, ou sim 
Quem sabe não seja ela meu motivo

A moça da Glória
Que cruzou meu destino.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pesadelo

Tive um sonho tão bom essa noite
Apelidei-o pesadelo

Acordei querendo dormir pra sempre
Acordei desejando aquela vida
Acordei desejando você na minha vida

Mas foi só um sonho
Um sonho tão bom quanto impossível
O bastante pra frustrar todo meu ser
Eis o por quê apelida-lo como tal

Frustração, angústia e mágoa
Tudo isto, assim, de uma única vez
Porém, contraditório como sou, ouso
Ouso em dizer que caso perguntes

Se mudaria aquele pesadelo
Daquela madrugada
Daquele dia
Responderei um insensato não

Pois ainda que por uma hora ou duas
Que por apenas uma noite
Que apenas em sonho
E que por mais onírico que tenha sido

Naquele momento
Houve um nós
Entrelaçadas em uma só
E eu fui feliz.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Salto

Enquanto ainda há aviso
Todos ignoram, nem notam
Quando houver o ato
O silêncio se fará notável

Desistir é pros fortes
Os fracos suportam a dor
Suportam por medo
Medo do que não tem explicação

Vou desistindo em doses
Até esvaziar por completo
Aquilo que chamo de ser

Daqui de cima tudo soa menor
Todos parecem poucos
Me jogar não me parece ruim

As pernas bambas apontam o medo
A incerteza de querer o fim
A procura pelo impedimento

Já não existe mais nada
Sou eu e o salto
Agora já não há ninguém.

Pietra

Pietra
Pi-e-tra
Rima rara, difícil e complicada

Moça única
Se conjuga no infinito
Intrasitiva ou transitiva demais?

Ai não sei..
Fica a critério do sábio
Aquela que a consegue decifrar

Mas nunca a toa
Só a decifra quem ela quer
Ela manda e desmanda nos mundos

Brinca com substantivos
Diverte adjetivos
Dispensa complementos

Se pudesse decifrava
E guardava pra mim
Quem dera, eu, chamar de minha

Ah! Pronomes possessivos
Esses nunca, prefere os indefinidos
Ela tem todos mas não é de ninguém

Ela é tese,
Antítese e
Síntese...

Síntese perfeita de tudo que amo.

Ela

Morena delirante
Estilo tropicália
Aquela mistura brasileira

A boca desenhada
Desenho impactante
Se mostra pouco

Se esconde bastante
Finge não ser nada
Mas tem medo de tudo

Na verdade é o mistério
Seu melhor amigo
E seu maior aliado

Trava batalhas sozinha
As vence sem infante
E o faz de forma elegante

No fim se derrete por dentro
Demonstra menos que sente
Ama mais do que mostra

Ainda mais se teu sobrenome
É Casablanca.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Antes de me ofender, antes de se afastar, gosto de você pra começar. Antes de entristecer, antes de me culpar, gosto de você, branquinha"
                         -Porta, Retrato, Cícero

Garota do rio

Deitada e esplêndida
Curvas perfeitas e malandras
Morena de sotaque marinho

Se atira ao mar e se atira a orla
Não se permite a mais que um lar
É de todas as zonas, é a zona sul

É a tímida do Flamengo
A estreita de Botafogo
É a perigosa da Urca
A liberal do Arpoador
É a militar do leme
A famosa de Copacabana
É a inspiradora de Ipanema
A metidinha do Leblon

Ela é todas, ela é uma só
Ela é rio, ela é de janeiro a janeiro
Ela é a verdadeira Garota Carioca.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Leito frio

Teu corpo frio se atira em mim
Me invade, me viola e eu gosto
Não há pudores, não há medos

Minha boca em teus seios
Como consequência, teus arpejos
Tuas unhas cravadas em mim
São a prova do teu desejo

Cadela, minha cadela
Perdida, minha perdida
Mulher, minha mulher

Te jogo na cama e te digo verdades
Enquanto minhas mãos te invadem
Minha boca desliza por tua pele
Violo teu ser e violo tua alma

Sussurra que és minha
Grita que sou tua
Implora pra ser única

Me coloco dentro de ti, corpo único
Meus dedos te pertencem, minha boca te invade
Seus orgasmos acendem a vizinhança
O leito quente, se torna enchente

Outro dia,
Outra dama,
Mesma cama.

estranhos perfeitos
inimigos incertos
segredos indiscretos

olhares frios em corpos quentes
meias verdades, mentiras inteiras
incapazes do amor, réus da dor

entrelaçados pelo impossível
ironizados pelo próprio destino
amantes distantes, amantes errantes

escondidos e submersos
infelizes e entregues ao restos
solitários e acompanhados

Versos

Versos valsando versos
Versos velados e sinceros
Juntos, um exército

Exército cruel em marcha
Marchando contra o esquecimento
Indo de encontro a ti

Vorazes e irredutíveis e incrédulos
Escancaram o vigente amor em mim
Pois ou em verso ou em prosa é a ti

Mas quem não sabes?
Quem não veria?
Quem não diria?

Sou ferozmente nua
Sou publicamente pura
Sou pornograficamente sua

Desfeita em trapos
Entregue aos atos
Esquecida em pedaços

Expulsa da sua cama
Resto da tua trama
Desfecho do seu drama

Não mais dama
Não mais cavaleiro
Não mais humana


Valsa

Branca como a bruma
É a tua pele reluzindo a lua
Deitada, desnuda e impura

Entre seus arpejos, meus arrepios
Suas unhas marcam minha pele
Enquanto minha boca marca a tua

Sussurros barbáries em tom sútil
Corpos quentes, ferventes, frementes
O sussurro já é grito

Já não são só orgasmos, é frenesi
Teu veneno invadindo minha boca
Enquanto o meu se esvai por mim

Um único corpo para duas almas
Desejos unido em um só movimento
Tão ritmados que quem olha pensa:

Oh, que valsa.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

roteiro

já deixou de doer
já não lembro tanto
já deixou de corroer
só me sobra teu encanto

saudade, o tempo todo
raiva, nunca mais
esses são os sinais
passou por pouco

mas sabes que ainda é
ainda é tudo que amo
roteirista dos meus sonhos

cineasta do meu peito
improvisa e visa me encantar
mal sabes que ainda sonho contigo

mas no fim, somos assim
somos um roteiro guardado
estamos na gaveta e aguardamos
aguardamos ser mais que ensaio.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Tormenta

a tormenta da mente
faz de mim inconsciente
sou réu de minha sanidade
e refém da própria vaidade

isto é parte do meu resto
irreal, imoral e imundo
sou tolo e honesto
procuro algo vazio e profundo

estou partido em pedaços
corpo e alma viram estilhaços
eis aqui o que queres

as palavras conturbadas da mente sã
o desgaste dos pensamentos utópicos
o padecer da alma e o fulgor das letras

Parte em todo

distração suave ao tom da chuva
parece refrescar os desatinos da alma
lembro o motivo e ignoro a culpa
não deveria mas é involuntária a calma

tuas palavras, por vezes grossas, mas tuas
teus caprichos declarados e apaixonados
esses teus gestos impensados mas já ensaiados
trazem a saudade das pernas entrelaçadas nas tuas

enquanto sua ausência se fazia presente
não havia mais palavra decente
mas então voltas e volto, eu, a escrever
como se fosse impossível lhe esquecer

traz contigo a inspiração e o texto belo
me mostra que somos apenas um elo
mas mais que sonetos, me traz felicidade
tens tu, o dom proibido e a cura da minha insanidade

por enquanto, o teto esta meio azul.

(Des)Encontro

era mais quente que meu café
ficou morno como qualquer outro
nem frio, ao menos, só morno e pouco

o encontro escancarou o desamor
estilhaçou as mentiras e esperanças
declarou-se, enfim, o fim do acabado

esperava mais, assumo, réu confesso
olhar-te e sentir o que senti outrora
mas mudou se tudo, você e o mundo
sentimentos jazidos no último minuto

sabes-tu que titubiei ao encontro
sabes que não queria, que relutei
só não sabes ainda os porquês
pois bem, meu bem, vamos aos fatos

pensei em zil cenários, em todos, dor
pensei peito apertado e até um enfarto
quando não, nem coração acelerado
nada aconteceu, nem o céu se moveu

irônico ou não, foi este o encontro
de tudo, nós sobraram estranhezas
com o peito ainda sereno, declaro aqui
foi nosso (des)encontro do amor

Arrendamento

Ô andarilho
Pra que fazes isso?
Justo comigo
Logo eu, tão sozinho.

Vens e dizes que fica
Dizes que sou tudo que tens
Dizes que és minha
Mas vai mais rápido que vens.

Faz ermo, meu peito
Forçado a te esquecer
Forçado a estar sem você
Mas passa, estou refeito.

Então voltas como posseiro
Faz do ermo, teu território
Dizes que não é passageiro
Parece um novo repertório.

Mas não, não sabes ter dono
Age feito pássaro
Parece que gosta do estrago
Parece satisfeito com o abandono.

Desisto,
Não vivo mais assim
Chega dos teus desatinos
Não volte mais pra mim.

Ah, coração de poeta
Sofres mas sentes a falta
Se pergunta quando volta
Enquanto não, maltrata a caneta

Anda, volta logo
Volta ligeiro
Volta passarinho
Volta pro meu peito, teu ninho.






terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Janela.

Onde hoje sangra dor, 
           Outrora foi uma janela.

Onde hoje não há amor,
           Outrora vivia o filho dela.

Uma alma conturbada
           Buscou tanto uma paz
                  E na brisa fora encontrada.

Mergulhou no desespero
           Pôs fim a dor num segundo
                  Fez da alma, pó do mundo.

Vida e morte
           Faz uma da outra,
                    Jogo de sorte.

Zona mental

Te amo,
Não posso,
Não devo.

Tenho medo,
Choro,
Ignoro.

Fujo,
Corro,
Quase morro.

Te amo,
De novo,
Em dobro.

Espelhos.

Nossa, olha ali
olha a tristeza naquela imagem
nossa, mas quanta dor
ah, não é uma imagem distante..
É, aquela ali
É um reflexo de mim

Cansa, até o aço.

Dor.
Medo.
Solidão.
Cansaço.
Não és nem um verso mas já estou exausto.
Exausto só de pensar em sentir
Já não há mais forças nem pra mentir
Dor.
Ah, já não sei dizer o que dói.
Corpo, mente ou alma
Não sei e o pior é que me corrói.
Medo.
Medo de que? De fora ou de dentro?
Tá com medo ser ou de ve-la feliz?
É ela que ressoa por dentro.
Solidão.
Parece a pior mas é na verdade, a melhor
Sempre esteve aqui e nunca me deixou só
Já és tão íntima que sei teus jeitos de cor.
Cansaço.
Cansei de manter as máscaras
Que venham abaixo, que seja um grande espetáculo
Entrada franca, mentiras caras.

Piccola

Piccola,
Pequena, 
Picolé.
Sorvete em dia calor 
E um café mais quente, por favor
Coisas que só você sabe o que é.
Nessa dança de situações
Sou o que você quiser
Amiga sempre, amante quando der
Sou apenas mais um visitante
Não me importa ser alguém, não me interessa o título
Venho e vou, nada alarmante
És tu e nem sabe
A mais singela
Das obras de arte.
Pequena, 
Piccola, 
Picolé.

Fábio

Somos muitos
Somos tantos
Somos todos.
Quase não da pra perceber
Quem liga pra quem passa?
Se não é meu, não tem graça
Ai, me aparece você
Ah! Você!
Teu jeito, teu riso, teu tudo
Com você me sinto pronta
E juntos desbravamos o mundo.
Conversas que duram anos
Momentos que duram décadas
Espero que nunca esqueçamos.
Ah! Você!
Você é tão incrível, tão especial
Contigo aprendo sobre tudo
Faz tu, dos meus defeitos, normal
Somos dois
Somos poucos
Somos inteiros.

Soneto dela

Sabia que assim ia terminar
Não havia outra possibilidade
Haviam tantas verdades
Mas era tão forte como o mar
E como um mar, tinhas tu, ressaca
E nela fui afogada e transbordada
Será que eras tão dissimulada?
Será que fostes tu, minha capitu?

Tão intenso quanto machado
Tão amargo como casmurro
É esse o meu fim mais puro
Sou sim, um vazio consagrado
Está é a última cena do último ato
É o fim do nosso espetáculo
Não é romanesco, é biográfico
É fim mas não é trágico.
Só preciso dizer que por fim
Pintei o teto de azul como você disse.

Grande erro

Entrego os pontos, você venceu. É, eu sou seu maior erro, seu maior lamurio. Cresci assim, meio sem você não literalmente mas sentimentalmente, cresci por conta própria, cresci apoiada apenas em mim. Mas não reclamo, não acho que tenha sido ruim, pelo contrario, amadureci, me tornei mais forte, menos vuneravel. Coloquei no peito uma armadura, talvez cedo demais mas coloquei, uma armadura que na maior parte das vezes me protege de você. Posso reclamar de ter crescido só mas não posso alegar que não tive exemplos, pois você é o meu maior exemplo de tudo o que não ser, está em você tudo que eu mais desprezo, tudo que abomino, tudo que quero bem longe de mim. Tantos querem ser os espelhos dos seus, os reflexos dos mesmos e eu querendo ser sua arqui-rival, sua pior inimiga, eu querendo ser um anti-você. Me sinto uma tola sonhadora toda vez que penso em quantas vezes me peguei tentando entender, até me culpei e pior, tentei de forma incessante a sua aprovação mas que tola eu, tudo tão em vão. Quanto mais cresço menos me vejo em você, me pergunto se em algum momento te terei apenas como uma estranha, pior, se te verei como os demais olhares tortos em minha vida que enfrentei e superei e apaguei de mim. O que me dói mais é olhar no espelho e ver em mim esse poço de rancor, de magoas e feridas ensaguentadas e dolorosas, feridas que não se fecham de forma alguma. É, eu sou seu maior fracasso, seu pior pesadelo, sou seu importuno, sou a mancha da sua vida, o buraco do seu passado, sou a prova viva de tudo aquilo que você mais quer esquecer, sou como um erro que você quer passar por cima, que você quer ignorar como se não estivesse ali, sou mesmo seu maior defeito. É, eu sou na verdade o seu maior e mais catastrofico erro.

“Significado de Erro
s.m. Opinião, julgamento contrário à verdade: cometer erro.
Falsa doutrina; opinião falsa: o erro dos heresiarcas.
Engano, equívoco: erro de cálculo.”

Cá estamos, eu e a insônia

Cá estou, ainda acordada e de certa forma atordoada, com a cabeça cheia de pensamentos, planos, utopias e até pequenos dilemas. Cá estou, uma menina, assim meio perdida e meio encontrada, com insônia de sonhos perdidos, com medo do que se aproxima e felicidade do que já sei foi. Essa será apenas mais uma noite mal dormida, mais uma noite onde tenho apenas uma xícara de café e pensamentos, tanto bons quanto ruins, de companhia. Cá estou, imersa em pequenos devaneios, doces deletérios provenientes de minha própria cabeça, pois sim, sou meu maior veneno. Nesta cadeira, pouco confortavel, olhando o movimento na porta, ouvindo no fundo a televisão que está tão que transpassa o som que vem dos fones de ouvido, observando as letras que surgem na tela ao meu toque no teclado, rindo daquela pequena gota seca de escorrida de café e curtindo intensamente o barulho hipnotizante do silêncio da madrugada que é tão calada mas que provoca gritos dentro de mim. Nesse momento me sinto sozinha mas é um sozinha em paz, é um sozinha que me remete a um prazer inenarravel de estar só comigo e pensamentos e ideias vãs. Penso que se nascesse na epoca do romantismo, de fato seria adapta ao byronismo, pois ao ler as caracteriscas de tal me sinto em casa. Cá estou, olhando a um monte de letras jogadas e embaralhadas, apenas avulsos como simples rabiscos de uma criança. Cá estou, apenas tentando esvaziar minha mente que de tão lotada não me deixa dormir, não me deixa se quer deitar em paz. Cá estou, desisto de tentar esvaziar, parece que tem uma zona de arquivos na minha cabeça, uma zona que quando libera um menor espaço o resto tenta ocupar, isso é a consequencia de anos de arquivamento desordenado pois sim, a mente é somente uma grande caixa de arquivos guardados e etiquetados. É, não deu, não consegui mas preciso dormir, então apelo ao que me resta, todos sabem do que falo. Enfim e por fim, boa noite.

Passe, fico

Eles tiram o colete
Mas tiram pra quem?
Pra você? Ou pra eles?
Falam, gritam e berram confiança
Não consigo entender
Treinados a desconfiar, tem que aprender
Aprender sobre esperança.
Esperança quanto as quebradas
Que antes invandia
E agora tem cidadania
Ou pelo menos agora legitimada
E o povo que antes era invadido
Tem acreditar que o invasor
Se tornou o seu protetor
Que sem colete, não há bandido
O passado ainda é presente
Presente no dia-a-dia do invasor
Deixado nas marcas do invadido
Mas não se esquece a verdade
A favela não confia na nobreza
A nobreza não confia na favela
Ninguém confia em ninguém
E muito menos na PM.

Surra

Bate
Pode bater, já não dói mais
Já são só socos, nada demais
Bate
Bate e vai levando o que tem aqui
Pode levar esses pedaços de ti
Era amor
Virou ódio
Era ternura 
Virou descrença
Mas bate
Pode bater de novo
De repente cresce algo no teu oco
Chega de bater
Chega de apanhar
Cansei de sofrer.

Cigarro

Em busca de verdades e certezas
Perdem-se os sonhos e as utopias
Como resposta a minhas palavras
Apenas um trago.

Um trago, uma brasa e és cinza

És, então, restos de meus deletérios
E logo não serás nada e nem eu
Mais um trago.

Sinto no trago o sabor da lembrança
Gosto da tristeza imersa na solidão
E a ruptura de quem fui e quem sou
Mais um trago.

O barulho do silêncio me ensurdece
Já não me reconheço mais em mim
Já não vejo mais teu cheiro aqui
Mais um trago.

O cigarro acaba mas a dor não se vai
E o vazio que você abandonou aqui
Nem você pode mais preencher
Mais um trago.

Já não sou nem poeta e nem moço
Sou então menos que meu cigarro
Sou na verdade refém da minha dor.
Ultimo trago.
Acendo outro cigarro.