segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pesadelo

Tive um sonho tão bom essa noite
Apelidei-o pesadelo

Acordei querendo dormir pra sempre
Acordei desejando aquela vida
Acordei desejando você na minha vida

Mas foi só um sonho
Um sonho tão bom quanto impossível
O bastante pra frustrar todo meu ser
Eis o por quê apelida-lo como tal

Frustração, angústia e mágoa
Tudo isto, assim, de uma única vez
Porém, contraditório como sou, ouso
Ouso em dizer que caso perguntes

Se mudaria aquele pesadelo
Daquela madrugada
Daquele dia
Responderei um insensato não

Pois ainda que por uma hora ou duas
Que por apenas uma noite
Que apenas em sonho
E que por mais onírico que tenha sido

Naquele momento
Houve um nós
Entrelaçadas em uma só
E eu fui feliz.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Salto

Enquanto ainda há aviso
Todos ignoram, nem notam
Quando houver o ato
O silêncio se fará notável

Desistir é pros fortes
Os fracos suportam a dor
Suportam por medo
Medo do que não tem explicação

Vou desistindo em doses
Até esvaziar por completo
Aquilo que chamo de ser

Daqui de cima tudo soa menor
Todos parecem poucos
Me jogar não me parece ruim

As pernas bambas apontam o medo
A incerteza de querer o fim
A procura pelo impedimento

Já não existe mais nada
Sou eu e o salto
Agora já não há ninguém.

Pietra

Pietra
Pi-e-tra
Rima rara, difícil e complicada

Moça única
Se conjuga no infinito
Intrasitiva ou transitiva demais?

Ai não sei..
Fica a critério do sábio
Aquela que a consegue decifrar

Mas nunca a toa
Só a decifra quem ela quer
Ela manda e desmanda nos mundos

Brinca com substantivos
Diverte adjetivos
Dispensa complementos

Se pudesse decifrava
E guardava pra mim
Quem dera, eu, chamar de minha

Ah! Pronomes possessivos
Esses nunca, prefere os indefinidos
Ela tem todos mas não é de ninguém

Ela é tese,
Antítese e
Síntese...

Síntese perfeita de tudo que amo.

Ela

Morena delirante
Estilo tropicália
Aquela mistura brasileira

A boca desenhada
Desenho impactante
Se mostra pouco

Se esconde bastante
Finge não ser nada
Mas tem medo de tudo

Na verdade é o mistério
Seu melhor amigo
E seu maior aliado

Trava batalhas sozinha
As vence sem infante
E o faz de forma elegante

No fim se derrete por dentro
Demonstra menos que sente
Ama mais do que mostra

Ainda mais se teu sobrenome
É Casablanca.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Antes de me ofender, antes de se afastar, gosto de você pra começar. Antes de entristecer, antes de me culpar, gosto de você, branquinha"
                         -Porta, Retrato, Cícero

Garota do rio

Deitada e esplêndida
Curvas perfeitas e malandras
Morena de sotaque marinho

Se atira ao mar e se atira a orla
Não se permite a mais que um lar
É de todas as zonas, é a zona sul

É a tímida do Flamengo
A estreita de Botafogo
É a perigosa da Urca
A liberal do Arpoador
É a militar do leme
A famosa de Copacabana
É a inspiradora de Ipanema
A metidinha do Leblon

Ela é todas, ela é uma só
Ela é rio, ela é de janeiro a janeiro
Ela é a verdadeira Garota Carioca.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Leito frio

Teu corpo frio se atira em mim
Me invade, me viola e eu gosto
Não há pudores, não há medos

Minha boca em teus seios
Como consequência, teus arpejos
Tuas unhas cravadas em mim
São a prova do teu desejo

Cadela, minha cadela
Perdida, minha perdida
Mulher, minha mulher

Te jogo na cama e te digo verdades
Enquanto minhas mãos te invadem
Minha boca desliza por tua pele
Violo teu ser e violo tua alma

Sussurra que és minha
Grita que sou tua
Implora pra ser única

Me coloco dentro de ti, corpo único
Meus dedos te pertencem, minha boca te invade
Seus orgasmos acendem a vizinhança
O leito quente, se torna enchente

Outro dia,
Outra dama,
Mesma cama.

estranhos perfeitos
inimigos incertos
segredos indiscretos

olhares frios em corpos quentes
meias verdades, mentiras inteiras
incapazes do amor, réus da dor

entrelaçados pelo impossível
ironizados pelo próprio destino
amantes distantes, amantes errantes

escondidos e submersos
infelizes e entregues ao restos
solitários e acompanhados

Versos

Versos valsando versos
Versos velados e sinceros
Juntos, um exército

Exército cruel em marcha
Marchando contra o esquecimento
Indo de encontro a ti

Vorazes e irredutíveis e incrédulos
Escancaram o vigente amor em mim
Pois ou em verso ou em prosa é a ti

Mas quem não sabes?
Quem não veria?
Quem não diria?

Sou ferozmente nua
Sou publicamente pura
Sou pornograficamente sua

Desfeita em trapos
Entregue aos atos
Esquecida em pedaços

Expulsa da sua cama
Resto da tua trama
Desfecho do seu drama

Não mais dama
Não mais cavaleiro
Não mais humana


Valsa

Branca como a bruma
É a tua pele reluzindo a lua
Deitada, desnuda e impura

Entre seus arpejos, meus arrepios
Suas unhas marcam minha pele
Enquanto minha boca marca a tua

Sussurros barbáries em tom sútil
Corpos quentes, ferventes, frementes
O sussurro já é grito

Já não são só orgasmos, é frenesi
Teu veneno invadindo minha boca
Enquanto o meu se esvai por mim

Um único corpo para duas almas
Desejos unido em um só movimento
Tão ritmados que quem olha pensa:

Oh, que valsa.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

roteiro

já deixou de doer
já não lembro tanto
já deixou de corroer
só me sobra teu encanto

saudade, o tempo todo
raiva, nunca mais
esses são os sinais
passou por pouco

mas sabes que ainda é
ainda é tudo que amo
roteirista dos meus sonhos

cineasta do meu peito
improvisa e visa me encantar
mal sabes que ainda sonho contigo

mas no fim, somos assim
somos um roteiro guardado
estamos na gaveta e aguardamos
aguardamos ser mais que ensaio.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Tormenta

a tormenta da mente
faz de mim inconsciente
sou réu de minha sanidade
e refém da própria vaidade

isto é parte do meu resto
irreal, imoral e imundo
sou tolo e honesto
procuro algo vazio e profundo

estou partido em pedaços
corpo e alma viram estilhaços
eis aqui o que queres

as palavras conturbadas da mente sã
o desgaste dos pensamentos utópicos
o padecer da alma e o fulgor das letras

Parte em todo

distração suave ao tom da chuva
parece refrescar os desatinos da alma
lembro o motivo e ignoro a culpa
não deveria mas é involuntária a calma

tuas palavras, por vezes grossas, mas tuas
teus caprichos declarados e apaixonados
esses teus gestos impensados mas já ensaiados
trazem a saudade das pernas entrelaçadas nas tuas

enquanto sua ausência se fazia presente
não havia mais palavra decente
mas então voltas e volto, eu, a escrever
como se fosse impossível lhe esquecer

traz contigo a inspiração e o texto belo
me mostra que somos apenas um elo
mas mais que sonetos, me traz felicidade
tens tu, o dom proibido e a cura da minha insanidade

por enquanto, o teto esta meio azul.

(Des)Encontro

era mais quente que meu café
ficou morno como qualquer outro
nem frio, ao menos, só morno e pouco

o encontro escancarou o desamor
estilhaçou as mentiras e esperanças
declarou-se, enfim, o fim do acabado

esperava mais, assumo, réu confesso
olhar-te e sentir o que senti outrora
mas mudou se tudo, você e o mundo
sentimentos jazidos no último minuto

sabes-tu que titubiei ao encontro
sabes que não queria, que relutei
só não sabes ainda os porquês
pois bem, meu bem, vamos aos fatos

pensei em zil cenários, em todos, dor
pensei peito apertado e até um enfarto
quando não, nem coração acelerado
nada aconteceu, nem o céu se moveu

irônico ou não, foi este o encontro
de tudo, nós sobraram estranhezas
com o peito ainda sereno, declaro aqui
foi nosso (des)encontro do amor

Arrendamento

Ô andarilho
Pra que fazes isso?
Justo comigo
Logo eu, tão sozinho.

Vens e dizes que fica
Dizes que sou tudo que tens
Dizes que és minha
Mas vai mais rápido que vens.

Faz ermo, meu peito
Forçado a te esquecer
Forçado a estar sem você
Mas passa, estou refeito.

Então voltas como posseiro
Faz do ermo, teu território
Dizes que não é passageiro
Parece um novo repertório.

Mas não, não sabes ter dono
Age feito pássaro
Parece que gosta do estrago
Parece satisfeito com o abandono.

Desisto,
Não vivo mais assim
Chega dos teus desatinos
Não volte mais pra mim.

Ah, coração de poeta
Sofres mas sentes a falta
Se pergunta quando volta
Enquanto não, maltrata a caneta

Anda, volta logo
Volta ligeiro
Volta passarinho
Volta pro meu peito, teu ninho.