quinta-feira, 26 de junho de 2014

O fim de Gray

Fim de Gray

Muta mudo no imenso barulho de si
Constante enquanto mutante
Mocidade trocada pela paz da alma
Não há marcas aparentes 

Dos crimes e castigos 
Calas e consentes 
Consciência se faz ausente 

Refém da própria vaidade 
Perseguido pelo medo da eternidade 
Já não conheces mais a volta

Peste do passado lhe ronda
Lhe atormenta 
E só conheces o jogo da derrota

Antes fosse só a peste
Há agora a besta
Teima e urra e ensurdece 

Já não mais são da própria verdade
Não pode mais conviver com a besta
Cravas uma faca na imagem do mal

Morta está a besta 
Morta está a peste
Morto está o tormento 

Acabas de matar a si mesmo.

Mapa

Meridianos loiros
Paralelos brancos como bruma
Tua boca como linha do equador

Tuas mãos apontam oriente e ocidente
Teus olhos apontam ao mais longe sul 
Teus pés me fazem de norte 

Te observo em esquadro e compasso 
Ao passo que rotaciono ao buscar direção 
Aos poucos me acho 

Há em teus fartos narcisismos,
Nos líricos de tua voz
E nos teus sutis descartes...

Há em todo teu ser 
Tal como mapa

A cura do meu ócio.
 

sábado, 21 de junho de 2014

Madrugada entre ela

Dentro dos teus olhos raramente doces
Há alguma coisa. 

Perdido na tua voz aveludada
Há alguma coisa.

Nesses movimentos previamente espontâneos
Há alguma coisa. 

Escancarado nas tuas meias verdades
Há alguma coisa. 

Nas tuas dores risonhas
Há muita coisa. 

Já não sei onde as coisas se encontram 
Já não há mais certezas
Há prosa nesses versos
E versos nas tuas coxas.

Estou deslizando sobre teus contornos
Estou deliberando sobre tuas curvas
Estou me apossando da tua respiração 
Estou completamente entregue a ti.

Naquele momento a aurora é um reflexo teu
As nuvens formam um espelho do teu rosto
Nesse instante percebo que já é dia 
Te observo por um segundo ou mais, és quase tela. 

Todas as linhas me parecem breves
Os versos são apenas esboço do ocorrido.

Entre teus risos, meus carinhos
Entre os até breve, os volte logo.

Ainda decifrarei essa madrugada de sexta.  


terça-feira, 10 de junho de 2014

Musa do poeta

Estou partindo
Não minta assim pra mim
Não é preciso

Sei que teu corpo é só porto
Estadia permanente não vinga
Mas por favor, não minta

Meio poeta, meio atriz 
Por inteiro, apenas meretriz 
Conheço esses teus olhos ilusionistas
Por isso, não mintas 

-Elogios tão ensaiados,
Sabe se lá Deus,
Em quantos palcos...-

Tuas curvas bandidas 
Teus traços pecadores
Tuas palavras divinas

E só quero que mintas...

Por isso estou partindo
Pois tu, só me basta, em doses

É esse teu lugar
Amante por contrato
Coração sem dono 

Se amanheço a teu lado
Quebras o encanto

Deixarias de ser meretriz,
Eu não seria mais escritor
E esse seria o fim do nosso amor.

domingo, 1 de junho de 2014

Poeta da meia-noite

Poeta das noites intermináveis 
Sofre de abandono do sono 

Escrivão só
Ourives das palavras

Sentando em algum banco 
Não mais que apenas humano
Tomado pelo frio e pelo medo

Versos farsantes
Rezas incrédulas 

Cansado de Deus
Esquecido pelo diabo